O dia começa tranquilo neste 28 de dezembro de 2016. Estamos em Arroio Teixeira, uma praia pequenina aqui no Rio Grande do Sul. As pessoas mais próximas de mim sabem que eu vi o mar pela primeira vez aos 23 anos e aqui mesmo nas terras gaúchas. A praia aqui em Arroio é um pouco diferente, principalmente nessa época do ano. Por mais que receba muita gente para o natal e ano novo, ainda é super tranquila comparada à Florianópolis, onde eu moro.
Os dias aqui passam tranquilos, a Gabriela entrou no quinto mês de gestação e basta a Bárbara ficar quieta à noite para começarmos a sentir a pequena se movimentando no útero. Agora começa a ficar cada vez mais concreto, cada vez mais perto de termos a Gabriela nos braços. Super legal também que a partir de agora a Gabriela consegue ouvir e reconhecer as nossas vozes. Um prato cheio para um pai Linguista, não? Já começo a conversar com ela e até mesmo ler historinhas pra ela antes de ir dormir. A leitura tem um papel importante na criação de um laço de afeto entre pais e filhos, e além do mais, gostamos de histórias, gostamos de fantasia e de imaginação.
Ler para a Gabriela e conversar com ela tem a ver também com esse título que escolhi para a postagem. Primeiramente gostaria de explicar um pouco o que um Linguista faz, o linguista trabalha obviamente com Linguistica que é a ciência que tem por objetivo estudar a comunicação humana em seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico, pragmático, social e psicológico. Quem começou tudo isso foi o suíço Ferdinand de Saussure na segunda metade do século XIX e desde lá, já aprendemos muito, além de sempre ter a certeza de que não sabemos nada ainda sobre a comunicação humana. A minha trajetória na Linguistica digamos que começou cedo, por volta dos 10 anos. De lá pra cá, estudei Inglês, Latim, Grego, Alemão, Espanhol, Japonês, Francês, Holandês, Espanhol e claro o Português, fiz minha gradução em Letras - Inglês e agora termino meu mestrado em Linguistica. Não falo todas essas línguas, muito menos me comunico em todas elas. O que quero dizer é essa curiosidade por idiomas me levou a estudar lingüistica e a trabalhar com isso.
O que isso tudo tem a ver com a pequena Gabriela? Bom, Eu venho estudando o bilinguismo por anos e como acabo usando Português e Inglês todo o dia, eu penso que seria um grande dom para a pequena ser capaz que falar mais de uma língua. Com a pequena, vamos fazer a técnica do OPOL, onde um dos pais fala uma língua e outro fala outra. Mas Adriano, falar inglês, morando no Brasil? Isso não é uma forma de supervalorização de uma cultura estrangeira em detrimento da cultura mãe? Bom, isso até pode acontecer, mas depende muito da abordagem dos pais em relação a isso. Primeiramente, uma língua não pertence a um território geográfico estabelecido, esse tipo de fronteira existe só na política. Para termos uma ideia, cerca de 80% dos falantes de inglês ao redor do mundo não são nativos desta língua. Não vou me estender aqui sobre essas questões, por que não é muito o ponto, mas podem me escrever para conversarmos sobre bilinguismo ou outras coisas relacionadas a língua. O objetivo é ensinar mais um código para a Gabriela, pois acredito muito no ensino de línguas como forma de desenvolvimento pessoal, uma pessoa só tem a ganhar com o aprendizado de uma outra língua, seja ela qual for. Também queremos trabalhar as habilidades sociais da Gabriela, pois até mesmo em Português temos que nos adaptar para sermos entendidos. A maneira como eu falo com meus pais é diferente da maneira com que eu falo com a minha orientadora, ou da maneira com que eu falo com a minha esposa, ou nos vários ambientes que eu circulo. Saber mais de uma lingua também envolve saber usá-las em sociedade e saber em quais situações se fala Português e em quais situações se fala inglês.
Gostaria que fosse divertido e que jamais a Gabriela pense que é melhor que ninguém por falar mais de uma língua. Como pai, eu apenas gostaria de dar esse presente pra ela, um presente que a permitirá andar por mundos diferentes, conhecer realidades diferentes, interagir com livros, videos, uma produção cultural imensa. Além de tudo também gostaria que ela entendesse que não existe língua melhor que outra. O inglês vai abrir portas para o mundo, mas o português será a lingua que vai marcar a identidade dela, a identidade dos pais e dos coleguinhas. No fim, o grande desafio vai ser ajudar a pequena nas habilidades sociais, por que ensinar o código é possível e de forma até mais fácil do que se pensa.
Finalizando o post, é claro que tudo o que aprendi até hoje vem dos livros que li, das experiências que tive, dos alunos que tive em uma escola internacional. No entanto vai ser a primeira vez que vou testar com a minha própria filha. Também pra isso espero a ajuda e conselhos de quem já caminha pela estrada do bilinguismo.
English Version!
This is a quiet rainy day at the beach. Barbara and I and spending some time with family in a small beach called Arroio Teixeira, which is located in the Brazilian state of Rio Grande do Sul. My closest friends know that not until I was 23 did I see the ocean for the very first time in my life. This is a different beach from those I am actually used to and despite lots of people are here now for the end of year festivities, it is still a quiet place where I can have some peace and relaxation.
Days are quiet and Barbara is in her 5th month of pregnancy now. Everything is fine with our little preciousness and it is incredible how she already moves inside Barbara's womb and it is so exciting that we can feel her already! Another super cool fact about Gabriela is that she is now capable of hearing us and she can even recognize our voices, exciting eh? This week I started talking to her and read some stories to her before bedtime. I can't help it, I am a linguist! hehe
Talking to Gabriela and reading to her have to do with my post's title. Before moving on, I would like to give you guys a glimpse of what a linguist does. A Linguist works with Linguistics, which is the science that studies human communication in its phonetical, morphological, semantical, pragmatic, social and psychological aspects. It was Ferdinand de Saussure, a Swiss scholar who started it all in late 19th century. We have learned a lot since Saussure, but we still have a long way to go in our attempt to understand human communication. I started my long journey in Linguistics at about the age of 10. Since then, I have studied English, Latin, Greek, German, Spanish, Japanese, French, Dutch and obviously my own language, Portuguese. I have a college degree in English language and its literatures and I am about to finish my master's in Applied Linguistics. I don't speak all those languages I have studied, I cannot even have a conversion in all all of them, what I mean is that my curiosity for languages led me to study linguistics and to work with it now. English has now the status of additional language to me as I use it everyday to work, to read, to communicate with friends and even to have fun. I have made English one of my own languages, we call it language appropriation in Linguistics.
What does it all have to do with Gabriela? Well, I have been studying bilingualism for years now and we have decided to teach Gabriela how to speak English through OPOL (One parent, One language). But Adriano, why speak English to your kid if you live in Brazil? Don't you think you're overvaluing a foreign culture in comparison to your own? This can happen, I won't deny that but it all depends on how parents deal with bilingualism. To begin with, a language has no borders, these kind of borders are political only. Nowadays, about 80% of English speakers around the globe are non-native speakers. I won't extend myself too much about all these issues, but feel free to write to me and talk to me if you would like to know a bit more about English as Lingua Franca and bilingualism. What we are looking forward to doing is teaching Gabriela a new code because I strongly believe that a new language is a wonderful tool for one's personal development. Nonetheless, I would like Gabriela to learn some social abilities to use both languages. Even when we speak our mother tongues, we should know to adapt it to social situation we are in. For instance, The way I talk to my parents diferes form the way I talk to my wife, my in-laws, my academic supervisor and even friends. A successful communicator knows to wisely use his/her linguistic repertoire in different situations with different people. Knowing more than one language also demands this ability of switching the code depending on which situation we are in and this is what I want Gabriela to learn.
I would like it to be fun and natural and I'll make all my efforts to explain to our little one she's not better than anyone else just because she'll know more than one language. as a father, I want the best to my kids, and I think that learning languages is great asset to anyone. Gabriela will be able to see a different world, different realities and different perspectives. It's so much fun to do it all in different languages. I would also like that she can understand there is no better language than other. English will help her a lot but Portuguese will still be her mother tongue, her own identity and her own culture, so I believe it is all about the way you address bilingualism. In the end, our great challenge will not be the teaching of the code (language) but the social skills to use them wisely. Teaching the code is easier than we think it is.
Last but not least, all I have read about bilingualism is still theoretical. I have little empirical experience. If you are raising your kid bilingual and want to share your experiences, please do talk to me.