Agosto de 2016, vida normal, até então "tudo nos conformes" como diria a minha mãe. Um mês comum como qualquer outro, com acontecimentos bons e outros nem tão bons assim. Mal sabia eu que agosto de 2016 seria o mês que mudaria minha vida para sempre. Bom, eu mesmo não tenho ainda muita noção de como a minha vida vai mudar.
Explico melhor, meu nome é Adriano Santos, sou lingüista e professor de Inglês. Atualmente moro em Florianópolis onde termino meu mestrado em linguistica aplicada pela então Universidade Federal de Santa Catarina. Até então o agosto de 2016, minha principal preocupação era terminar de escrever minha dissertação de mestrado para defende-la em 2017, coisa que ainda estou fazendo. Principal preocupação por que um certo dia, minha esposa me liga (ela estava trabalhando em outra cidade) e no meio da conversa me informa que sua menstruação estava atrasada. Bom, sabe aquele tipo de informação que às vezes é até trivial? Pensei que fosse algo relacionado ao stress do trabalho, afinal de contas eu nunca entendi muito direito como funciona o ciclo menstrual. Já ouvi relatos de que atrasa, adianta às vezes e que o ciclo de 28 dias é meio um padrão para se ter uma idea.
Daí então a menstruação começou a atrasar por um tempo que eu e a minha esposa começamos a desconfiar. hehe Daí nos decidimos a esperar até o final de semana para comprar um teste de gravidez de farmácia, isso mesmo, daqueles bem comuns que eu nunca tinha visto na vida. hehe A história de comprar o teste também foi curioso, por que me lembro de ter saído de casa quase à meia-noite do dia anterior para ir a uma farmácia 24 horas, por que havíamos esquecido de comprar o teste durante o dia e estávamos ansiosos para saber o resultado do teste já no dia seguinte.
Acordamos no dia seguinte, daí eu e a minha esposa nos olhamos e com apenas um sinal com os olhos entendemos que era a hora. Na verdade não foi bem assim, mas resolvi colocar assim para construir a narrativa. A questão é que ela foi ao banheiro, usou a fitinha do teste e logo olhou pra ele para saber o resultado. Bom, para quem não sabe, o teste apresenta uma fitinha onde o resultado positivo apresenta 2 linhas e o negativo apenas 1 linha. A segunda fitinha do teste detecta um hormônio chamado beta HCG que é um hormônio apenas produzido pelo corpo da mulher durante a gestação.
Ela olhou para a fitinha e logo concluiu que não estava grávida, pois tinha visto apenas 1 linha na fitinha do teste. Depois disso, ela colocou a fitinha em cima de uma mesinha e me abraçou. Daquele abraço aconchegante fui observando uma segunda linha, bem fraquinha surgindo aos poucos no teste. Minha reação foi olhar para a minha esposa e logo dizer: " - Amor, acho que tem uma segunda linha aparecendo" . Ela olhou pro teste, olhou pra mim e daí a pergunta que ela me fez, e eu mesmo a fiz mentalmente. " - Será que eu tô grávida?" . O que pensar naquele momento, será que sim? será que não? e agora? Decidimos então comprar outro testezinho, só pra ter certeza. E assim fizemos.
Segundo teste, agora já com um pouco de expectativa. Acho que nessa hora não é que estava torcendo por um sim ou um não. Queríamos apenas ter um sim ou um não. Saber se a vida dali pra frente mudaria ou continuaria do jeito que estava. O problema era conviver com a dúvida. Aliás, é muito confortável a ideia de saber que tu vais ser pai ou não quando tu já conversou sobre isso com a esposa ou companheira. É mais confortável ainda quando tu já não tem mais 20 anos e já aprendeu um pouquinho da vida.
O segundo teste foi rápido e logo já vimos a segunda linha da fitinha. É isso então, vamos ter um bebê? Sou pai? Vou ser pai? qual o verbo que eu uso? qual conjugação? O que me torna pai é a segunda linha do teste? Claro que não, aliás quando tu vê o teste tu nem acredita direito que ele funciona. Ao menos essa foi minha experiência. Vem aquele sentimento de susto, de wow! vou ser pai, também vem uma alegria tímida, bem tímida eu diria, por que ainda não é nada concreto. Não é muito incomum que mulheres percam seus bebês nos três primeiros meses de gravidez, então por isso que a alegria foi tímida. Acho que nunca tive tanta mistura de sentimento junto quanto nos primeiros dias depois do teste. Aquela sensação de felicidade, susto, preocupação com a saúde e bem estar da minha esposa, planos pro futuro, cautela e tudo mais. Entre todos esses sentimentos, vem uma situação totalmente torturante: a de não poder contar pra ninguém ainda. O não contar pra ninguém se explica por dois motivos. O primeiro é o querer preservar a família, a futura mãe passa por transformações psicológicas e físicas muitas vezes impossíveis de descrever (assunto para uma outra postagem) O segundo motivo é que os futuros pais precisam de seu tempo para entender e processar tudo. Afinal de contas não é apenas a criança que nasce, com ela nasce também o pai, a mãe, a tia, o tio, o avô, a avó e por aí vai... Os pais precisam primeiro entender que eles mesmos estão passando por mudanças.
Confesso que não é fácil, o tempo passando, a certeza de ser pai se concretizando, e mesmo assim não poder contar pra ninguém. Sempre nos vinha à cabeça que esperaríamos os 3 meses, ou as famosas 12 semanas. Falando nisso, contar a gestação por semanas é agoniante. Agora estou começando a me acostumar, mas no inicio era horrível. Até cheguei a fazer a conta de quantas semanas de vida eu já tenho. Até o momento, 31 anos dá um aproximado de 1602 semanas de vida. É uma boa estratégia para falar a idade.
Acho que tive a certeza de que ia ser pai depois do exame de sangue que confirma a gravidez. Só que quando o resultado do exame saiu, eu já sabia que ia ser pai, já era uma informação comum na vida, como se eu sempre já tivesse sido pai. Daí vem uma sensação gostosa da gravidez, a sensação de uma felicidade extrema com uma pitadinha de susto ainda e muito pé no chão para pensar no que muda daqui pra frente. Essa sensação de muita alegria que na verdade eu gostaria de dizer excitement em inglês por expressa melhor o que eu quero dizer é também o fato de eu e a minha esposa sermos um time. A alegria compartilhada é mil vezes maior e nos dá segurança para sentir com intensidade a experiência de estar esperando um bebê.
Ao terminar de escrever essa postagem vou dormir pensando que amanhã faremos a primeira ultra-sonografia. Afinal, temos que ver se tem o bebê ali dentro mesmo e se está tudo certo. Com sorte saberemos o sexo. Quanto à isso, é claro que estou curioso, mas depois de ler muito sober gravidez e processos e tudo mais, o que eu mais quero é pensar no bem-estar do bebê e da mãe. Saber o sexo é secundário. Se quem estiver lendo esse texto discordar, pode ser que mude de perspectiva quando descobrir que vai ser pai ou mãe. Ou pode ser que não também. Vai saber, ser humano é muito complexo.
É isso, por enquanto. Amanhã é o primeiro ultra-som e a mistura de sentimentos continua. O mais presente agora é a ansiedade.
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