domingo, 23 de outubro de 2016

Guri ou Guria? Menino ou Menina? Boy or Girl?

Não importa o idioma ou mesmo a variação linguistica que estamos falando. Quando contamos que vamos ter um bebê, essa é uma das primeiras perguntas que ouvimos. A pergunta, de certa forma me lembra uma frase forte do genial escritor uruguaio Eduardo Galeano que disse que "vivemos em uma cultura de aparências, onde o contrato do casamento vale mais que o amor, o velório vale mais que o morto, as roupas mais que corpo e a missa mais que Deus". Será que de alguma forma estamos valorizando mais o sexo do bebê que o bebê em si? Estaria sendo hipócrita ao dizer que não tenho a curiosidade de saber o sexo, estou sim curioso, mas vamos pensar um coisa: A gravidez muda e muito o corpo da mulher. Não só o corpo, mas o psicológico. É uma enxurrada de hormônios e reações inesperadas que acontecem. Lembro que tudo isso é natural, gravidez não é doença, muito pelo contrário. É uma fase de descoberta, de aprendizado, de companheirismo e uma espera gostosa. No meio disso tudo eu comecei a ler muito sobre gravidez, e sobre como o corpo da mulher reage à toda essa enxurrada de hormônios. Descobri, por exemplo, como acontecem às más formações do feto, também li sobre o Zica Virus, embora não saibamos ainda como ele age no corpo e a relação com ele com a microcefalia, não podemos ser negligentes em relação a isso. A cada semana vamos vendo os batimentos cardíacos do bebê, vamos vendo o que cresceu e se está tudo certinho com o pequeno ser na barriga da mãe. Também é hora de pensar na mãe: está se alimentando? está usando protetor solar? repelente? os exames de sangue deram resultados favoráveis que comprovem a saúde dela e do bebê? Meus amigos (as) leitores (as), no momento eu estou lidando com duas vidas super preciosas pra mim. Minha esposa, companheira e carrega no ventre uma parte de mim. Diante de todas essas preocupações eu penso que talvez seja até egoísmo da minha parte querer apenas matar minha curiosidade de saber se é guri ou guria, menino ou menina, boy or girl como o título do post sugere.  Sábios eram meus avós e agora meus pais que sempre repetem: "O importante é vir com saúde!" Essa frase nunca fez tanto sentido pra mim como faz agora. O que me deixa mais curioso em saber o sexo é conseguir chamar meu filho ou minha filha pelo nome. Daí poderei dar uma identidade para ele (a) ao invés de chamá-lo (a) de bebê. 

Uma outra questão que vem me chamado a atenção é o quanto o estereótipo de gênero está enraizado na maneira que muitos de nós proferimos nossos discursos. "Ah Adriano, se for menina vai ser uma princesinha"; "É que o pai prefere menino"; "Ah, por que mulher já nasce sabendo que é mulher" e o mais clássico de todos: "Me diz quando descobrir o sexo para saber se dou presente azul ou rosa". Fico pensando com os meus botões, sério? Não posso vestir meu (minha) filho (a) de amarelo, verde, ou qualquer outra cor? Será que isso faz diferença pro bebê? Ou mesmo a princesinha, será que isso significa que minha filha terá que crescer esperando um marido bondoso e generoso para tirá-la da casa do pai e ser feliz para sempre como nos contos de fada? Será que é justo condenar uma guria desde a sua infância à submissão e inferioridade ao homem? Bom, pode ser que as pessoas que dizem isso não tenham a intenção de dizer isso, mas o fato é que dizem e parece não se darem conta de significar o que estão significando. Também não as culpo, pois podem ter sido socializadas assim. Talvez não tiveram a oportunidade de questionar esses discursos. 

Pode ser que agora eu tenha vários pensamentos de como criar os filhos hoje e pode ser que as minhas concepções mudem com o tempo, mudem com a experiência. Mas, o que queremos para nossos filhos está ligado ao que pensamos, faz parte dos nossos valores, de quem somos. Talvez seja legal se perguntar isso. Quem sou eu? Para onde quero ir? O que me faz feliz? o que importa na vida? Talvez essas respostas possam nos ajudar a nos conhecer e conhecer os valores que queremos para os nossos filhos. Onde eu quero chegar com tudo isso? Quero apenas dar opções aos meus filhos. Quero que tenham oportunidades de brincar na chuva, correr, brincar, pular, cantar, montar legos, ouvir histórias, jogar basquete, voleibol e futebol se assim quiserem, independente de ser ou guri ou guria. Quero que tenham a inocência de uma criança, que consigam sorrir e sejam capazes de amar e serem amadas. Não quero que meu filho cresça achando que é melhor que qualquer mulher, assim como não quero que minha filha tenha desde o nascimento o seu destino traçado de "bela, recatada e do lar". 

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